[MÚSICA] [MÚSICA] No primeiro módulo do nosso curso vimos o papel do jogo na formação da cultura e algumas relações existentes entre os jogos e a arte. Partimos da definição de jogo e de arte, sendo que ambos os casos assumimos que esse tipo de explicação varia função do contexto. O que estamos propondo aqui é que se pense na arte no jogo partindo de alguns dos seus principais paradigmas. Neste módulo discutiremos alguns dos paradigmas da arte. Vamos começar com o paradigma da funcionalidade. Para que serve a arte? A arte precisa servir para alguma coisa? Uma das principais razões para a desvalorização da arte acontece quando tentamos julgar a sua importância num viés totalmente pragmático. Quando você precisa construir uma casa você procura engenheiro, quando você está doente você procura médico. Mas se a arte não pode ser vista como uma necessidade básica, porque nós nos expressamos artisticamente desde que nos entendemos por seres sociais? A verdade é que, principalmente hoje dia, a arte está presente de uma maneira tão intrínseca nas nossas vidas que muitas vezes nós nem paramos para pensar nela e a arte é assim mesmo. Como o julgamento dela ocorre de maneira subjetiva, ao menos inicialmente, nós não estamos acostumados a racionalizá-la. A arte nos fornece diversos tipos de experiências que causam reações emocionais igualmente variadas, por isso podemos gostar imediatamente de uma obra ou sentir verdadeira repulsa por ela. Então a arte não tem função porque ela é emoção pura? Nem sempre, na verdade há muito mais por trás da estruturação de objeto artístico do que nós percebemos no momento da apreciação. Da matemática existente nas composições musicais ao estudos de perspectiva das pinturas, é necessário muito suor para se construir experiências memoráveis. Mas talvez a discussão mais delicada na qual nós possamos entrar ao pensar na função social da arte seja da chamada arte engajada. Hoje dia podemos pensar que o artista tem uma liberdade de expressão ilimitada, isso não é bem verdade. Como já dito por Benjamin o artista sofre uma pressão social para colocar sua arte ao serviço de uma causa. [MÚSICA] Mesmo que o artista se considere autônomo ele se encontra caracterizado dentro de uma estrutura política, social e econômica. Esse contexto faz com ele tenha posicionamento e por mais que o artista tente se manter neutro esse posicionamento é transmitido através da obra. Para Benjamin as relações sociais são pautadas pelas relações de produção, ou seja, se uma obra está de acordo com as relações produtivas estabelecidas pelo espírito de uma época essa obra é chamada de reacionária. Por outro lado, se a obra é incompatível com essas relações, é crítica e propõe algum tipo de mudança ou transformação, ela é considerada revolucionária. Nós já vimos o exemplo da fotografia, que no que diz respeito ao conceito de autenticidade da obra, pode ser considerada na época de sua ascensão como meio revolucionário. Diante das técnicas artísticas tradicionais para a época as técnicas de reprodução possuíam características únicas que, ao contrário de servirem de justificativa para afastá-las do campo das artes, na realidade mudariam a definição de arte na medida que instituiriam uma nova linguagem artística. Então se considerarmos a fotografia como o primeiro meio de reprodução realmente revolucionário podemos dizer que esse momento artístico produziu uma nova postura doutrinária. Novo paradigma para a função da arte, uma teologia da arte pela arte, o ideal de que a arte deveria ser pura, sem função social ou qualquer outra. Mas como já vimos os paradigmas vão sendo substituídos por outros ao longo do tempo. Ao longo da história a arte teve diversas funções sociais desde o seu carácter ritualístico até à busca de uma expressão individual. Dado que a função da arte pode ser intrínseca, seria questionável a própria doutrina de uma arte pura, Essa doutrina pode ser vista como uma tentativa de responder à crise provocada pela inserção de novos processos tecnológicos no meio artístico. A reprodutibilidade técnica da obra de arte teria o poder de romper com a questão da autenticidade, a ponto da função social da arte se libertar desse misticismo que a envolve. A arte entraria naturalmente no terreno político trazendo o poder e o papel do produtor pouco mais próximos do público geral. Bom, com isso encerramos essa rápida explanação sobre o paradigma da funcionalidade no campo artístico. Nosso próximo tópico é o paradigma da arte para poucos. [MÚSICA] [MÚSICA]